Carreira

CLT x PJ: qual vale mais a pena financeiramente?

Comparativo completo entre trabalhar de carteira assinada ou como pessoa jurídica: salário líquido, benefícios, impostos e aposentadoria.

Redação Money Hoje
19 dez. 2025 | 10:00
12 min
CLT x PJ: qual vale mais a pena financeiramente?

A decisão entre trabalhar como CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) ou PJ (Pessoa Jurídica) é uma das mais importantes na vida profissional de qualquer brasileiro. Com a flexibilização das relações de trabalho e o crescimento do empreendedorismo, cada vez mais profissionais se deparam com essa escolha.

Neste guia completo, vamos comparar detalhadamente os dois regimes de contratação, analisando salário líquido, impostos, benefícios, proteções trabalhistas e impacto na aposentadoria. Ao final, você terá todas as informações para tomar a melhor decisão para sua situação.

O que é CLT e o que é PJ?

Regime CLT

O regime CLT é a forma tradicional de contratação no Brasil, onde o trabalhador tem vínculo empregatício formal com a empresa. A carteira de trabalho é assinada e o profissional tem direito a todos os benefícios previstos na legislação trabalhista.

Regime PJ

No regime PJ, o profissional abre uma empresa (geralmente MEI, ME ou EIRELI) e presta serviços para outras empresas através de contratos comerciais. Não há vínculo empregatício, o que significa mais autonomia, mas também menos proteções.

Comparativo de Salário Líquido: CLT x PJ

Para fazer uma comparação justa, vamos simular diferentes faixas salariais e calcular quanto sobra no bolso em cada regime. Use nossa calculadora de INSS e calculadora de IRRF para fazer simulações personalizadas.

Salário BrutoCLT (Líquido)PJ Simples NacionalDiferença
R$ 5.000R$ 4.010R$ 4.550+R$ 540/mês
R$ 8.000R$ 6.115R$ 7.280+R$ 1.165/mês
R$ 12.000R$ 8.640R$ 10.920+R$ 2.280/mês
R$ 15.000R$ 10.440R$ 13.650+R$ 3.210/mês
R$ 20.000R$ 13.440R$ 18.200+R$ 4.760/mês

* Valores aproximados considerando Simples Nacional com alíquota média de 9% para PJ e descontos de INSS + IRRF para CLT. Valores reais podem variar conforme faixa de faturamento e atividade.

Descontos no Regime CLT

No regime CLT, o trabalhador tem os seguintes descontos obrigatórios no salário:

INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)

A contribuição ao INSS é progressiva, com alíquotas que variam de 7,5% a 14%, dependendo da faixa salarial. O teto de contribuição em 2025 é de aproximadamente R$ 908,86.

  • Até R$ 1.518,00: 7,5%
  • De R$ 1.518,01 a R$ 2.793,88: 9%
  • De R$ 2.793,89 a R$ 4.190,83: 12%
  • De R$ 4.190,84 a R$ 8.157,41: 14%

IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte)

Após o desconto do INSS, o salário restante é tributado pelo Imposto de Renda com alíquotas progressivas de 0% a 27,5%. Saiba mais em nosso guia completo de Imposto de Renda.

Impostos no Regime PJ

Como PJ, os impostos dependem do regime tributário escolhido:

MEI (Microempreendedor Individual)

Ideal para faturamento até R$ 81.000/ano (R$ 6.750/mês). Paga um valor fixo mensal de aproximadamente R$ 75,90 (serviços) ou R$ 76,90 (comércio), que inclui INSS, ISS e ICMS.

Simples Nacional

Para faturamento até R$ 4,8 milhões/ano. A alíquota varia de 6% a 33% dependendo da atividade e faixa de faturamento. Para prestação de serviços (Anexo III ou V), a alíquota inicial fica entre 6% e 15,5%.

Lucro Presumido

Para faturamento maior, com tributação entre 11,33% e 16,33% dependendo da atividade. Exige contabilidade mais complexa, mas pode ser vantajoso para alguns casos.

Benefícios CLT: o que você recebe

O regime CLT oferece diversos benefícios garantidos por lei que precisam ser considerados na comparação:

FGTS (Fundo de Garantia)

O empregador deposita mensalmente 8% do salário bruto em uma conta vinculada. Esse valor não sai do seu salário, é um custo adicional para a empresa. Confira nosso guia sobre como calcular e sacar o FGTS.

13º Salário

Pagamento extra equivalente a um salário, dividido em duas parcelas (novembro e dezembro). Use nossa calculadora de 13º salário para simular o valor líquido.

Férias Remuneradas

30 dias de férias por ano com adicional de 1/3 do salário. Ou seja, você recebe 1,33 salários pelo período de descanso.

Seguro-Desemprego

Em caso de demissão sem justa causa, o trabalhador CLT tem direito a 3 a 5 parcelas de seguro-desemprego. Veja quem tem direito em nosso guia do Seguro-Desemprego.

Multa de 40% do FGTS

Em demissão sem justa causa, o trabalhador recebe 40% de multa sobre todo o saldo do FGTS acumulado.

Outros Benefícios Comuns

  • Vale-transporte (desconto máximo de 6% do salário)
  • Vale-refeição ou alimentação
  • Plano de saúde e odontológico
  • PLR (Participação nos Lucros e Resultados)
  • Licença-maternidade (120 a 180 dias) e paternidade (5 a 20 dias)

O que o PJ precisa bancar por conta própria

Como PJ, você não tem os benefícios CLT, então precisa considerar esses custos no seu planejamento:

  • INSS como contribuinte individual: R$ 266,67/mês (mínimo) a R$ 1.631,48/mês (teto)
  • Plano de saúde particular: R$ 300 a R$ 2.000/mês
  • Reserva para férias: guardar 1/12 do faturamento mensal
  • Reserva para 13º: guardar 1/12 do faturamento mensal
  • Contador: R$ 150 a R$ 500/mês
  • Reserva de emergência (equivalente ao seguro-desemprego)

Aprenda a montar sua reserva de emergência para ter segurança financeira como PJ.

Impacto na Aposentadoria: CLT x PJ

A diferença na contribuição ao INSS impacta diretamente sua aposentadoria futura:

CLT

Contribuição automática sobre o salário total (respeitando o teto). O empregador paga uma parte adicional (20% patronal). Você se aposenta pelo teto do INSS se contribuir sobre o teto durante toda a carreira.

PJ (MEI)

Contribuição de 5% sobre o salário mínimo. Garante aposentadoria por idade apenas pelo valor de um salário mínimo. Para ter direito a aposentadoria maior, é preciso complementar com 15% adicional.

PJ (Contribuinte Individual)

Pode contribuir com 11% (aposentadoria por idade, 1 salário mínimo) ou 20% sobre qualquer valor até o teto do INSS para ter direito a aposentadoria proporcional às contribuições.

Qual proposta PJ compensa? A conta de equivalência

Para saber se vale a pena aceitar uma proposta PJ, você precisa calcular quanto seria necessário receber como PJ para igualar ou superar os benefícios CLT. A fórmula básica é:

Valor PJ mínimo = Salário CLT × 1,4 a 1,6 (dependendo dos benefícios)

Isso significa que, em geral, a proposta PJ precisa ser pelo menos 40% a 60% maior que o salário CLT para valer a pena financeiramente.

Exemplo Prático

Se você ganha R$ 10.000 como CLT com bons benefícios (plano de saúde, VR, PLR), a proposta PJ deveria ser de pelo menos R$ 14.000 a R$ 16.000 para compensar.

Vantagens e Desvantagens de Cada Regime

Vantagens CLT

  • Estabilidade e previsibilidade de renda
  • Benefícios garantidos por lei
  • Proteção em caso de demissão
  • Contribuição previdenciária automática
  • Menos burocracia e preocupação com impostos
  • Férias remuneradas obrigatórias

Desvantagens CLT

  • Salário líquido menor devido aos descontos
  • Menos flexibilidade de horários e local de trabalho
  • Dificuldade para ter múltiplas fontes de renda
  • Limite de crescimento salarial

Vantagens PJ

  • Salário líquido maior
  • Flexibilidade para trabalhar com múltiplos clientes
  • Possibilidade de deduzir despesas do negócio
  • Maior autonomia e liberdade profissional
  • Potencial de ganhos ilimitado

Desvantagens PJ

  • Sem proteção em caso de rescisão do contrato
  • Responsabilidade por organizar benefícios próprios
  • Instabilidade de renda
  • Burocracia de manter uma empresa
  • Custos com contador
  • Menor proteção previdenciária se não planejar bem

Pejotização: o que é e quais os riscos

A pejotização ocorre quando uma empresa contrata um profissional como PJ, mas a relação de trabalho tem características de vínculo empregatício CLT, como:

  • Subordinação a um chefe
  • Horário fixo de trabalho
  • Pessoalidade (só você pode fazer o trabalho)
  • Habitualidade (trabalho contínuo, não esporádico)

Segundo a Justiça do Trabalho, essa prática é ilegal e pode resultar em reconhecimento de vínculo empregatício, com a empresa sendo obrigada a pagar todos os direitos trabalhistas retroativos.

Como fazer a transição de CLT para PJ

Se você decidir migrar para o regime PJ, siga estes passos:

  • 1. Construa uma reserva de emergência de 6 a 12 meses
  • 2. Consulte um contador para definir o melhor regime tributário
  • 3. Abra a empresa (MEI, ME ou outro tipo)
  • 4. Contrate um plano de saúde individual ou por adesão
  • 5. Defina sua estratégia de contribuição ao INSS
  • 6. Organize-se para pagar impostos e guardar reservas

Para fazer seu dinheiro render enquanto guarda as reservas, veja nosso guia sobre como investir no Tesouro Direto e compare as opções de CDB, LCI e LCA.

Qual escolher? Depende do seu perfil

Não existe resposta única. A melhor escolha depende de diversos fatores:

CLT é melhor para quem:

  • Prioriza estabilidade e previsibilidade
  • Não quer se preocupar com burocracia
  • Precisa dos benefícios (especialmente plano de saúde familiar)
  • Está começando na carreira
  • Não tem disciplina para guardar reservas
  • Pretende financiar imóvel (bancos preferem CLT)

PJ é melhor para quem:

  • Tem disciplina financeira e sabe guardar dinheiro
  • Quer maximizar ganhos no curto/médio prazo
  • Valoriza flexibilidade e autonomia
  • Tem habilidades em alta demanda no mercado
  • Consegue lidar com instabilidade
  • Quer trabalhar com múltiplos clientes

Conclusão

A decisão entre CLT e PJ vai muito além do valor nominal do salário. É preciso considerar benefícios, impostos, custos adicionais, aposentadoria e seu perfil pessoal. Use nossa calculadora de juros compostos para simular quanto você pode acumular investindo a diferença salarial ao longo do tempo.

A regra geral é: para valer a pena financeiramente, a proposta PJ deve ser pelo menos 40% maior que o salário CLT. Porém, se você valoriza estabilidade e não quer se preocupar com burocracia, o regime CLT pode ser a melhor escolha mesmo com um salário nominal menor.

Aviso: Este conteúdo é informativo e não substitui orientação profissional. Para decisões sobre seu regime de trabalho, consulte um contador e/ou advogado trabalhista que possa analisar sua situação específica.

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